GRUPO SENZALA - 1963
Histórico do Grupo Senzala de Capoeira
Fernando C. C. de Albuquerque, Mestre Gato, Dezembro de 2019
O Grupo Senzala, formado no Rio de Janeiro, tem sua história iniciada desde 1963. Com 84 cordas vermelhas (até agora são 108 cordas vermelhas em sua história) e muitos professores ensinando Capoeira no Brasil e no mundo, tornou-se um dos mais importantes grupos na história da Capoeira moderna. A maioria dos grandes grupos de capoeira da atualidade foi influenciada pela metodologia de ensino desenvolvida pelo Grupo Senzala.
A história do grupo começa com três irmãos, na década de 60, Paulo, Rafael e Gilberto Flores. Sua família mudou-se de Salvador para o Rio de Janeiro e durante as férias escolares voltavam a Salvador. Em 1962, Paulo começou a treinar defesa pessoal na Academia Santana, com o baiano Valdo Santana, irmão do famoso lutador Valdemar Santana. Valdo Santana, assim como seu irmão Valdemar, também eram capoeiristas e pode-se presumir que Paulo teve algum contato com sua capoeira. Segundo depoimentos do Rafael, eles treinaram também com um mestre pernambucano, Marcelino, na Praça Mauá, Rio de Janeiro. No início de 1963, durante as férias em Salvador, levado por um primo capoeirista, Paulo passou dois meses treinando na academia de Mestre Bimba, junto com seu irmão Rafael.
Ainda em 1963, de volta ao Rio de Janeiro, decidiram continuar treinando e organizaram um treino semanal no terraço do prédio onde moravam, em Laranjeiras, com a participação de uma rapaziada da área.
Nessa época eu era amigo do Paulo e foi interessante como vi a capoeira pela primeira vez. Fui a uma festinha na casa dele, em um sábado à noite e, durante a festa, Paulo se estressou com um cara, começaram a discutir e resolveram ir na rua para decidirem a questão. Na roda formada na pracinha do chafariz, o sujeito partiu para cima do Paulo, que lhe derrubou com uma pernada e acabou ali a disputa. Perguntei ao Paulo o que era aquele movimento e ele me disse ‘É Capoeira!’. Me contou sobre os treinos no terraço e me convidou para participar, o que aceitei empolgado. Todo Sábado de tarde a gente estava lá. Logo recebi o apelido de Gato.
O Rafael costumava dizer que sendo ele baiano, o Paulo nascido no Rio de Janeiro e o Gato de origem pernambucana, estava formada a tríplice base do futuro Grupo Senzala, da mesma forma que a capoeira surgiu em sua forma mais pujante em Salvador, Rio de Janeiro e Recife.
Aquele pequeno grupo de adolescentes começou a trocar experiências com outros grupos e academias do Rio de Janeiro, desde a capoeira de Sinhô (provavelmente a última manifestação da antiga capoeiragem do Rio de Janeiro, a capoeira dos malandros,
da pernada carioca e do samba duro), até a capoeira do famoso Artur Emídio, com sua roda aos Domingos em Bonsucesso. Muitas vezes aqueles rapazes iam jogar ao som do berimbau do Mestre Valdo Santana, em sua academia de luta livre em cima do bar Amarelinho, na Cinelândia. Em 1964, Paulo e eu, Gato, representamos a Academia Santana em um torneio denominado Berimbau de Prata, no I Festival Folclórico de Santa Teresa, Rio de Janeiro, promovido pelo Clube dos Amigos do Folclore, quando obtivemos o 3° lugar, atrás de academias famosas como Bonfim e Artur Emidio.
E os treinos de Sábado no terraço em Laranjeiras continuavam firmes. A turma do terraço ia aumentando, meu irmão Gil, que veio a se tornar Gil Velho, Eliseu Barra (in memoriam), Gorila, Antero, Sanfona, Bigode, Jimmy, William, Fala Mansa e outros. A idade média do pessoal em 1964 era de 17 anos, a não ser pelos dois meninos de 9 e 10 anos de idade, do morro Dona Marta, sempre presentes nos treinos e exibições, o Sorriso e o Garrincha. O ano de 1965 foi de importantes novidades para o grupo. Um jovem formado do Mestre Bimba, o Preguiça, veio para o Rio de Janeiro e passou a fazer parte daquela turma, exercendo forte influência no jogo da rapaziada. No mesmo ano, vieram também o Claudio Danadinho, que havia começado a treinar capoeira em Brasilia com Valdenor, um formado do Mestre Bimba, o Peixinho, que era amigo do Claudio e tinha começado a dar umas pernadas com ele, e o Itamar, que também era conhecido do Claudio e do Peixinho. Ali estava o núcleo dos que vieram a ser considerados os fundadores do Grupo Senzala, Rafael e Paulo Flores, Claudio Danadinho, Gato, Gil Velho, Garrincha, Itamar, Peixinho, Preguiça e Sorriso. Na década de 80, o Preguiça mudou-se para o EUA e montou um outro grupo, passando a desenvolver um trabalho de forma individual, fora do Senzala.
Os treinamentos no terraço do edifício dos irmãos Flores duraram até 1966, devido à intensidade e número de participantes, o grupo conseguiu um espaço no antigo Teatro Jovem, no Mourisco e depois no Centro Estudantil Maranhense, no Largo do Machado, onde haviam aulas regulares durante a semana. Em 1968, o grupo mudou-se para a antiga garagem do casarão da família do Helinho, no Cosme Velho.
Em 1966, um show folclórico chamado Vem Camará, dirigido por um dos mais conhecidos capoeiristas da academia de Mestre Bimba, o Acordeon, trouxe a nata da capoeira regional da época. Acordeon, conhecido de Paulo e Rafael, foi no terraço e deu umas rasteiras na rapaziada, ensinando algumas malandragens e técnicas da Regional. Nessa ocasião, o pessoal iniciou a amizade com Camisa Roxa, Itapoan e Saci, também formados do Mestre Bimba e participantes do show.
Em 1966, durante uma exibição no Clube Germânico, o grupo foi apresentado pela primeira vez como Grupo Senzala, nome sugerido pelo Paulo Flores. Foram várias exibições e demonstrações de capoeira para diferentes públicos, em programas de TV, como nos programas da Bibi Ferreira e da Hebe Camargo, ou em salas de teatro onde a capoeira nunca havia entrado, como no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, como convidados especiais do Espetáculo de Ballet da Academia Tatiana Leskova, novembro de 1968, e na Sala Cecília Meirelles, com o espetáculo Senzala Okê!, dezembro 1968. Também em 1968 o grupo se apresentou no Campeonato Mundial de Judô, tendo sempre à frente o Rafael Flores, como porta-voz e líder do Grupo Senzala. Em 1967,
tornou-se conhecido pela vitória no torneio denominado Berimbau de Ouro, quando se apresentou com seus capoeiristas vestindo calças listradas e corda vermelha na cintura, descalços e sem camisas. Cada grupo ou associação fazia uma apresentação de capoeira do grupo e de uma dupla que deveria jogar por cinco minutos. O feito repetiuse em 1968 e 1969, levando o nome da Senzala em todas as rodas e terreiros de capoeira do Brasil. Em 1967 e 1968, a dupla que representou o grupo foi o Preguiça e eu, Gato. Em 1969, os organizadores não permitiram a participação daquela dupla sob o argumento que poderia ser considerada de mestres, de forma que outra dupla representou o grupo, o Mosquito e o Borracha, que também levaram ao reconhecimento do Grupo Senzala como o melhor daquele festival. Os principais cordas-vermelhas, considerados por eles mesmos como membros do grupo, apenas capoeiristas, sem conotação de mestres, eram Rafael, Paulo, Gato, Preguiça, Gil Velho, Claudio Danadinho, Peixinho, Itamar, Borracha, Mosquito, Otávio e Maranhão no berimbau e grande cantador, além dos meninos Garrincha e Sorriso, que vieram a usar a corda vermelha posteriormente. Não se pode esquecer também um capoeirista que veio de Brasília, trazido pelo Claudio Danadinho, para participar com o grupo do Berimbau de
Ouro e que passou a usar a corda-vermelha, o Hélio Tabosa, que mais tarde trouxe o Fritz e o Adilson, que também adotaram a corda-vermelha em suas calças de treinamento.
O Grupo Senzala começou a ensinar em colégios, academias e universidades do Rio de Janeiro, levando essa arte popular em lugares pouco afeitos a este tipo de atividade. Gato começou a ensinar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Fundão, em 1967, e na PUC, na Gávea, em 1968. Rafael começou a ensinar na Fundação Getúlio Vargas em 1969. Posteriormente ele passou aquela turma para o Itamar e o Mosquito A capoeira começava a atingir a classe média da zona sul do Rio de Janeiro, com turmas grandes, com mais de 30 alunos. Foi necessário desenvolver metodologias para ensinar esses grupos. A Senzala utilizava uma ginástica baseada nos próprios movimentos da capoeira. Originalmente treinando a partir do método da Regional, utilizando a seqüência de ensino e a cintura desprezada do Mestre Bimba, os cordas-vermelhas do grupo começaram a criar pequenas seqüências de treinamento de jogos baixo e médio e prática dos golpes para o desenvolvimento das técnicas e velocidade. Nas férias de verão, o pessoal ia a Salvador, treinava nas academias de Mestre Bimba e Mestre Pastinha, freqüentava as rodas de Valdemar e Traíra, e voltava trazendo as novidades, o tipo de movimento novo, a maneira de treinar, a organização da roda em cada escola, eram horas de discussão entre aqueles rapazes, sedentos de se desenvolverem no jogo apaixonante da capoeira. Claudio Danadinho passou um ano pelo menos em Salvador, como parceiro de Camisa Roxa no Olondu Maré, grupo folclórico criado por aquele grande capoeirista. Naquele período, Claudio teve a oportunidade de freqüentar as academias dos mestres Bimba e Pastinha, as rodas tradicionais de Salvador, contribuindo fortemente para a construção da metodologia de treinamento da Senzala. No Rio de Janeiro, a aproximação com o samba das escolas da zona sul, dos mestres Leopoldina, Artur Emidio e Roque, fazia a ponte desse grupo de adolescentes para mergulhar na riqueza da cultura popular carioca.
De 1968 a 1971, o Grupo Senzala ficou oficialmente baseado em um casarão da Rua
Cosme Velho, a casa do Helinho, que convidou a rapaziada a usar um galpão que havia nos fundos de sua casa. As rodas de Sábado naquela casa ficaram famosas, com a capoeira rolando de 5 às 9 horas da noite, recebendo capoeiristas de todos os lugares, que ali encontravam um lugar de camaradagem, com boa capoeira, confraternizando no samba com a rapaziada popular dos morros do Cosme Velho. Ali foram capoeiristas da mais fina flor, como Leopoldina, Jair Moura, Camisa Roxa, Filhote de Onça, Itapoan, Acordeon, Cabeludo, Cebolinha, Macaco, Macaco Preto, Lua, Touro, Mentirinha, Korvo, e muitos outros. O Cosme Velho recebeu e deu as boas vindas ao grupo Senzala, capoeiristas como Baiano Anzol, Lua, Nestor, Bermuda e o baiano Santos Cipó. Nessa época, o Grupo Senzala começou a organizar uma estrutura de graduação para os novos alunos, onde o membro do Grupo, considerado um de seus representantes, seria um corda-vermelha e o iniciante corda branca, o aluno formado seria azul e depois foram criadas outras graduações, que o grupo conserva até hoje, tendo se recusado a alterar seu sistema quando, em 1972, foi iniciado um movimento para a regulamentação esportiva da capoeira. Em 1971 o Grupo teve que sair do Cosme Velho e mudou-se para a Associação dos Servidores Civis do Brasil – ASCB, ao lado do Canecão, onde ficou até 1975, quando se descentralizou e seus representantes passaram a desenvolverem seus trabalhos de forma mais independente. Foi na ASCB, em 1972, que o Camisa Roxa deixou seu irmão mais jovem, então com 17 anos, José Tadeu, que veio a ser mais um corda vermelha, mais tarde conhecido por Camisa, que teve uma participação muito importante na nova fase do Grupo, até seu auto afastamento, cujo processo iniciou-se de 1987 até 1990, quando criou uma nova associação, desligando-se assim formalmente do Grupo Senzala..
O Mestre Leopoldina teve importante papel na história do Grupo Senzala, participando de inúmeras exibições e rodas organizadas pelo grupo. Essa parceria começou desde quando o Mestre Leopoldina parou de ensinar no Fundão em 1967 e seus alunos Nestor e Bermuda, passaram a treinar no Grupo Senzala. Também o Mestre Roque, um baiano que ensinava no morro do Pavão e Pavãozinho, deu importante contribuição ao grupo, trazendo seu axé e berimbau nas rodas do Cosme Velho, incentivando os capoeiristas do Senzala a subirem o morro para jogar na sua academia e participarem dos ensaios de samba.
Em 1984, o Grupo Senzala participou da organização de um encontro nacional de capoeira no Circo Voador, que reuniu os principais grupos do Brasil, trazendo inclusive os mestres da velha guarda da Bahia e do Rio de Janeiro, como Valdemar, João Grande, João Pequeno, Caiçara, Jair Moura, Mucungê, Cangiquinha, Leopoldina, Artur Emídio, além de outros mais jovens como Itapoan, Eziquiel, Morais, Korvão, Mintirinha, Nacional, Touro, Hulk, Paulinho Godoy, Korvinho, Amarelinho, Medeiros, Martins e muitos outros.
Em 1988, Rafael Flores organizou um encontro de capoeira histórico em Santa Luzia do
Norte, no Espírito Santo, próximo à divisa com Minas Gerais e Bahia. Quase todo o Grupo Senzala participou, juntamente com mestres como Leopoldina, João Grande e João Pequeno.
De 1985 a 1989, os mestres Peixinho, Gato e Garrincha, participaram como árbitros de
Capoeira e palestrantes nos Jogos Estudantis Brasileiros - JEBS, discutindo seu regulamento e o Projeto Capoeira - MEC. Em 1991, o Grupo Senzala comemora os 25 anos de criação do grupo e 28 anos de história com um encontro nacional na UERJ, Rio de Janeiro, aberto a todos os capoeiristas, com todos os cordas-vermelhas dando aulas.
De 1985 a 1995 aconteceram grandes mudanças no grupo. Alguns cordas-vermelhas pararam de treinar, outros saíram do grupo e passaram a desenvolver seus próprios trabalhos, como o Lua (Lua Rasta), Anzol, Camisa, Preguiça e Nestor (Nestor Capoeira). Alunos dos mestres Peixinho (China) e Garrincha (Samara, Grilo, Paulinho Boavida) foram para a Europa e começaram a ensinar capoeira na França e na Holanda; os mestres Peixinho, Toni Vargas, Garrincha e Sorriso, passaram uma temporada na Europa e ajudaram a organizar o Primeiro Encontro Europeu de Capoeira, em 1987, marcando o início do que ficou conhecido como a implantação da capoeira pedagógica na Europa; eu, Gato, morei um ano na Inglaterra em 1989 e comecei um trabalho que começou a se desenvolver, sempre encorajando seus capoeiristas a virem ao Brasil para treinar e viver um pouco do dia a dia do nosso país. A década de 90 viu os mestres do Grupo Senzala assumirem uma liderança no papel de organização de seminários e encontros de capoeira no Brasil, Europa e Estados Unidos.
Foram 22 os cordas-vermelhas que fizeram a história ou participaram do grupo e se afastaram, desenvolvendo seus trabalhos individualmente ou se mantendo longe da capoeira. Todos eles tendo papel importante na história e no crescimento do grupo: Rafael (in memorian), Preguiça, Borracha, Mosquito (in memoriam), Nestor, Anzol,
Bermuda, Paulinho, Negão Muzenza (in memoriam), Caio, Lua, Camisa, Claudio Moreno (in memoriam), Arara, Mula, Marrom, Azeite (in memoriam), Amendoim, Peixinho (in memoriam), Irandir (in memoriam), Michel York e Flavio Caranguejo.
Peixinho faleceu em 16/05/2011, deixando um grande legado à Capoeira e ao Grupo Senzala, através de seus formados e alunos da sua escola, o Centro Cultural Senzala. Paz e Luz, Mestre Peixinho!
Rafael Flores faleceu em 06/11/2016. Rafael foi o líder e porta voz do Grupo Senzala nos primeiros 20 anos do grupo, tendo se afastado da organização quando se mudou para Santa Luzia do Norte, nos anos 80. Paz e Luz, Mestre Rafael Flores!
Em 2013, o Itamar formou corda vermelha seus alunos Fernando e Henrique, sem consultar os demais membros do grupo, argumentando que eles não se interessam por representar o Grupo Senzala ou serem mestres de capoeira. Em fevereiro de 2017, formou o Manel, antigo aluno do Peixinho, que passou a treinar com ele, Itamar, e que também não ensina capoeira. Dessa forma, esses três cordas vermelhas não participam da organização e representação do Grupo Senzala. No Vadiação 2017, foi formado o Marcos China, reconhecido por seu trabalho na implantação da capoeira do Grupo Senzala na França,
Atualmente os 83 cordas-vermelhas do Grupo Senzala que representam o Grupo Senzala são: Paulo Flores, Claudio Danadinho, Gato, Gil Velho, Garrincha, Sorriso, Itamar, Toni Vargas, Ramos, Elias, Beto, Feijão, Samara, Arruda, Rui, Bruzzi, Grilo, Abutre, Lobinho, Torneiro, Jacaré, Malzibier, Deco, Pedro, Pulmão, Pelé, Steen, Zumbi, Tida, Luis Claudio, Tarcisio, Igor, Chão, Rodriguinho, Chiquinho, Caracú, Banana, Tião, Ulisses, China, Coyote, Vingador, Afonso Vidanova, Timbalada, Jimmy Tazmania, os formados no Roda Mundo Capoeira 2016, Ana Sabiá, Fininho, Kiúra e Gigante, a Cristiane, formada no evento Batizado e Formatura 2017 – Mestre Toni Vargas, o Xuxa, formado no evento Eu Sou Capoeira 2017, em Teresópolis, os 11 formados no Vadiação 2017 – Adriano, Buzina, Duzentos, Caroço, Edgar, Feinho, Gavial, Marcos China, Marla, Nega e Renata e os dois formados no Quilombo do Grotão, Ratto e Lona. Ainda em 2017, na quadra dos Guararapes, Rio de Janeiro, Mestre Beto formou o Dedel, submetendo posteriormente, essa formatura à aprovação do Conselho de Mestres d o Grupo Senzala. Em 2018 foram formados o Buguelo e Jabá, no Roda Mundo e o Kapacete, no Ginga Meier. Em Janeiro de 2019, foram formados os dinamarqueses Camarão e Espiga, no Vem Jogar no Ilê. Em Fevereiro de 2019, foram formados o Tattoo, em Niteroi, indicado pelo Feijão e a Cristina Paris, baiana que mora em Paris e trabalha junto com Torneiro. Em Julho de 2019, foram formados o Caraúna no Vem Vadiar, do Senzala Meier, Julio Sanhaço e Renato Maluco no Vadiação Senzala 2019 e os franceses Sting e Jorge Kangol, no festival Berimbau Tocou Chamou Você. Logo em seguida, em Teresópolis, no festival Eu Sou Capoeira 2019, forma formados o Renato, Mark York, Jamorreo, Parabólica, Marcio Santos e Tyson.
Resumindo, 22 cordas vermelhas que não estão mais ativos no grupo, 4 que não representam o grupo, apenas treinam ou participam regularmente, e 84 cordas vermelhas que representam o Grupo Senzala, em um total de 109 cordas vermelhas desde 1963. È bom chamar a atenção para as nossas sete guerreiras Cordas Vermelhas: Tida, Ana Sabiá, Cristiane, Cristina Paris, Nega, Renatinha e Marla. A seguir, a lista por ordem alfabética dos 84 representantes do Grupo Senzala de Capoeira, em dezembro de 2019.
Abutre
Adriano
Afonso Vidanova
Ana Sabiá
Banana
Beto
Bruzzi
Buguelo
Buzina
Camarão
Caracú
Caraúna
Caroço
Chão
Claudio Arruda
China
Chiquinho
Claudio Danadinho
Coyote
Cristiane
Cristina Paris
Dedel
Deco
Duzentos
Edgar
Elias
Espiga
Feijão
Feinho
Fininho
Garrincha
Gato
Gavial
Gil Velho
Gigante
Grilo
Igor
Itamar
Jabá
Jacaré
Jamorreo
Jorge Kangol
Jimmy Tazmania
Julio Sanhaço
Kapacete
Kiura
Lobinho
Lona
Luis Claudio
Malzibier
Marla
Nega
Marcio Santos
Marcos China
Mark York
Parabólica
Paulo Flores
Pedro
Pelé
Pulmão
Ramos
Ratto
Renatinha
Renato
Renato Maluco
Rodriguinho
Rui
Soneca
Samara
Sorriso
Steen
Sting
Tarcisio
Tattoo
Tião
Tida
Timbalada
Toni Vargas
Torneiro
Tyson
Ulisses
Vingador
Xuxa
Zumbi
*Os nomes dos mestres fundadores estão em vermelho
O Método
O Grupo Senzala tem sua origem na capoeira baiana, seguindo inicialmente o método da Capoeira Regional, onde o aluno deveria aprender a seqüência básica de ensino, a sequência da cintura desprezada (balões), as quedas e movimentos desequilibrantes, apresentar“ësquetes” (ataques e defesas em seqüências combinadas, contendo quedas,
rasteiras e balões) e jogar nos diversos ritmos da Regional. A capoeira no Rio de Janeiro, na década de 1960 apresentava majoritariamente a capoeira baiana, trazida pelo mestre Artur Emidio, mas ainda havia um resquício da capoeiragem carioca, a capoeira dos malandros, das pernadas e do samba duro, representada pela capoeira de Sinhô. Sem a presença contínua de um mestre, recebendo a influência da capoeira existente no Rio de Janeiro naquela época e tendo necessidade de ensinar para grupos maiores de alunos, o grupo desenvolveu uma metodologia de ensino e treinamento própria, caracterizada pelos seguintes aspectos principais:
• Aquecimento e ginástica, desenvolvidos a partir dos fundamentos básicos da capoeira, utilizando a ginga e negaças no treinamento de ataques e defesas, fintas, movimentos de jogo alto, médio e baixo, praticando as esquivas e posições defensivas, as guardas, as descidas e subidas, os passos e passadas. Realização desses treinamentos com todo o grupo de alunos gingando ao mesmo tempo e fazendo o condicionamento físico e muscular através de prática de posições e movimentos de capoeira, como bananeira, corta capim, aú com queda de rins, role, trocas de negativa variadas, dentre outros..
• Treinamento de golpes e de seqüências de golpes em alvos leves e em saco de bater.
• Treinamento dois a dois, simulando situações de jogo.
• Treinamentos de ataques, defesas e contra-ataques.
• Utilização de seqüências de treinamento, como as da capoeira regional, variações dessas seqüências com utilização de esquivas e defesas desenvolvidas a partir das existentes na seqüência de ensino da regional, como esquiva de frente, lateral, de lado. Treinamento de seqüências de jogo baixo e médio, procurando praticar as entradas de cabeçadas, rasteiras, bandas e tesouras.
• Desenvolver a didática para o aprendizado, como treinar possíveis formas de ataques dos golpes, por exemplo fazer uma armada entrando em diagonal ao objetivo ou defendendo e contra atacando em diagonal.
• Trabalhar a criatividade e espontaneidade do aluno, através de metodologia de ensino intuitivo.
• Trabalhar o ritmo na movimentação e no jogo, através de treinamento seguindo diferentes ritmos, respeitando as Tradições e Rituais da Capoeira e seguindo os Fundamentos e Princípios do Grupo Senzala, descritos a seguir:
Jogo de Dentro
Ritmo de Jogo de Dentro.
Jogo de Iuna Ritmo de Iuna.
Jogo de Angola
Ritmo de Angola, São Bento Pequeno ou São Bento Grande de Angola, médio ou lento.
Jogo de São Bento Grande
Ritmo de São Bento Grande de Regional ou São Bento Grande de Angola rápido.
Fundamentos e Princípios do Grupo Senzala
Segundo Doutor Decânio, iniciado pelo Mestre Bimba em 1938 e um pensador de nossa arte, os Fundamentos da Capoeira bahiana são:
“A prática da capoeira se desenvolve obedecendo aos seguintes parâmetros:
• ritmo ijexá regido pelo berimbau;
• movimentos rituais ritmodependentes;
• disciplina e respeito à tradição, aos mais velhos e aos companheiros;
• parceria;
• movimentos em esquiva, circulares e descendentes;
• dissimulação de intenção; alerta, calma, relaxamento e autoconfiança permanentes
• estado de consciência modificado (transe capoeirano); ;” (Informações Gerais Sobre a Capoeira da Bahia, www,capoeiradabahia.com.br)
Os mestres do Grupo Senzala procuram praticar e ensinar a capoeira segundo os seguintes fundamentos e princípios:
• respeito às tradições e rituais da capoeira, com o ritmo do jogo comandado pelo berimbau gunga;
• respeito aos capoeiristas e mestres mais velhos, construção e manutenção de um ambiente de camaradagem e receptivo aos capoeiristas de todas as origens;
• disciplina, desenvolvimento do nível técnico dos capoeiristas e estabelecimento de um padrão de condicionamento físico no nível de um atleta;
• cultivar a humildade e o esforço de aprender com cada parceiro de jogo;
• desenvolver a percepção do ritmo e do outro, buscando sempre uma situação favorável no jogo e não se deixando surpreender, mas aceitando de bom humor as pegadas e buscando com tranqüilidade sua revanche; • desenvolver o bom humor e a brincadeira no jogo.